segunda-feira, 25 de abril de 2011


Por ordem:
Meu peixinho Dudu ( a sunguinha, vontade de morder!);
Dudu dando braçadas na areia e eu vigiando (o short molhou com água do mar tá?);
Meu sobrinho Arthur e eu.
                  Na Praia Residencial, perto da casa do meu irmão Charlles. Só na beirinha....porque de noite é perigoso!

Site do Escritor

Pessoal, este é o endereço do meu site, onde vocês podem encontrar, além dos textos aqui do blog, muitos outros, de temas diferentes.
www.suzananunes.com
PARA QUEM PRECISA DE REVISÃO DE TEXTOS, LIVROS OU TRABALHOS ACADÊMICOS, O ENDEREÇO É:
www.revisordetextos.com
Um abraço a todos!

terça-feira, 19 de abril de 2011

A COISA PÚBLICA

Ontem levei meus dois filhos pra brincar na praça. Logo o mais novo começou a disparar: “Mãe, de quem é a praça? Quem é o dono da praça?”
Eu então aproveitei a oportunidade para explicar que a praça é de todos, e que todos devemos cuidar dela, porque pertence ao povo, é pública. Ele atropela: “Eu sei, eu sei o que quer dizer 'público'!”
Fiquei curiosa!
“O que é, filho? Conta pra mamãe.”
“Público é assim...uma coisa que tem sujeira...que parece que tá sujo...né?”
(5 segundos em posição de estátua pensando o que responder)
“Não, filho, público é porque pertence ao povo, e não a uma pessoa só.”
“Ah tá.Vou brincar.”
Como funcionária pública, foi-me impossível não sentir vergonha.

“Eu fico com a pureza da resposta das crianças...”

sábado, 7 de março de 2009

PROFESSOR

O verdadeiro professor, aquele que jamais esquecemos,não necessita apresentar

seu currículo no primeiro dia de aula. Seu curriculum vitae se consiste em sua

postura, suas palavras, seus olhos. É algo que ele distribui livremente, porque lhe

sobeja, e nisto sente prazer. O currículo do professor é o testemunho que ele

constantemente presta de si mesmo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

RUA DE MÃO DUPLA




Na rua em que eu moro há uma separação estranha e muda entre o lado dos ricos e o lado dos pobres. A direita de quem desce é o lado daqueles que já conseguiram sair da estaca zero. Funcionários da CSN, aposentados, trabalhadores autônomos, comerciantes, pessoas que nada mais têm do que sua casa e seu carrinho, e fazem o churrasco de domingo. Às vistas dos demais vizinhos, os “ricos”. Quem mora à direita de quem desce, na minha rua, e ainda não se adequou ao grupo, corre para logo levantar uma parede, pintar uma fachada, comprar um carro velho à prestação, tudo para se incluir. Interessantes as dinâmicas que acontecem, silenciosas, no interior dos bairros de subúrbio. Na minha rua, acontece assim.
À esquerda de quem desce, moram os pobres. Nem tão mais pobres assim do que os outros, mas eles mesmos se intitulam desta forma, e assim vivem e se conformam. São os que tentam esticar o pescoço para espiar além dos muros do outro lado do asfalto, e que geralmente trabalham nas casas à direita, fazendo pequenos serviços de pedreiro ou babá. No final de tudo, os dois lados se “apertam “ e se “viram” para pagar as contas, para sobreviver. No entanto, esta foi a fissura que, não se sabe porque, se estabeleceu.
Do lado dos pobres mora Davi, um menino gordinho e inteligente, olhos vivos e sorriso fácil. Hoje com seus doze anos, desde pequeno acompanhava o pai que, já velho e doente, mancava de uma perna e usava uma bengala pra se equilibrar, seqüelas de um derrame.
Durante os primeiros anos da infância, Davi se tornou a sombra do pai. Sua devoção e fidelidade comoviam os vizinhos, a forma como ele o seguia, como o amparava, como verdadeiramente o amava, mesmo velho, mesmo rabugento e mandão.Havia uma cumplicidade entre eles, uma forte ligação de carinho e companheirismo.
Um dia, de repente, o pai sentiu-se mal e faleceu. “Pobre coitado do Davi”- foi o que todos pensaram. “Como vai viver sem o pai?” “O que fará durante as tardes em que seu único e incansável passatempo era segui-lo e se ocupar dele ?”
Uns dias tristes e confusos passou Davi. Caminhava cabisbaixo pela rua, recebendo o consolo vazio e inútil dos vizinhos, que repetiam essas coisas sem valor que a gente sempre repete por ocasião da morte, ao que correspondia com um sorrisinho amarelo, de canto.
“Pobre Davi....Ele não vai agüentar....”
À medida em que os dias passaram, porém, a alegria voltou a brilhar no rosto do menino. A capacidade de autocura das crianças é algo impressionante, e frequentemente ignorada pelos adultos. Capacidade esta que vamos perdendo enquanto crescemos.
Encontrei Davi no ponto de ônibus, certo dia, com a velha alegria de antes, surpreendentemente. Ora, pois o que se esperava de uma criança que perde um pai tão amado? Que chorasse, se descabelasse, que não suportasse. Ele estava lá, com uma caixa de sapatos nas mãos, cheia de pulseiras feitas de fios coloridos, trançados artisticamente por ele mesmo, cada uma cinqüenta centavos. Uma criança de nove anos, com uma iniciativa, imaginação, força de vontade e coragem de dar inveja em muito adulto...
Ele começou a oferecer-se para fazer pequenos trabalhos, como limpar quintais e ser ajudante de pedreiro, capinar, fazer qualquer coisa em troca de pouco dinheiro, do lado direito de quem desce, aqui na minha rua. Todos conhecem Davi. Ele faz parte do cenário. Os comerciantes o rotulam de chato, pois entra, quer saber tudo, pergunta tudo, todos os dias. Mas inegavelmente é uma figura querida. Sem perceber, Davi é uma inspiração para as pessoas da minha rua, dos dois lados. Pois ele se curou de um sofrimento, e com ele tornou-se melhor. Quantas vezes nós, adultos racionais, na mesma situação, não nos escondemos ou procuramos consolo e colo, para não enfrentar nossas fraquezas, não expor nossas feridas...
Uma mente inventiva e uma postura pró ativa como a de Davi eventualmente o levarão ao sucesso na vida. Quem tem a mente acostumada a encontrar saídas para as próprias dores, para os apertos do destino, não se contentará em ficar parado na lamentação, e aprenderá a “trançar pulseiras de fio colorido”, a cada novo desafio.
As dificuldades separam o homem forte do fraco, assim como os privilégios. Os extremos testam o que há de melhor e pior em cada um. Não é nascer na pobreza, o que faz uma criança ser destinada a ter um futuro pobre, em todos os sentidos, mas os valores que a ela são passados, assim como na riqueza. Um adulto criado na riqueza se afunda em três meses, se sua herança não for acompanhada de pilares firmes de caráter.
Assim, a maioria das pessoas que hoje são contempladas por muitos privilégios na vida, tem em seu passado familiar um “Davi”, que, como o do Velho Testamento, não se esquivou dos desafios nem se jogou em choro e autopiedade, mas encontrou uma solução para vencer a própria fraqueza e seguiu em frente. Estes privilegiados nem sempre dão valor ao legado que carregam, e se afundam no mar das facilidades, da “vida ganha”. São os “filhinhos de papai”. E então, a montanha russa do trabalho e do comodismo nunca para. Em qual das etapas estamos nós? Para qual delas a educação que estamos dando aos nossos filhos os formará? Em que lado da rua estarão nossos descendentes daqui a uma, duas, três gerações? À esquerda de quem desce, à direita de quem sobe, não importa. Os desafios da vida virão para eles, e o que determinará se serão felizes ou não, ricos ou pobres, será sua capacidade de lidar com o sofrimento, e isto depende dos valores e o exemplo que a eles transmitirmos - hoje.




SU

(foto fictícia)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008





Havia num bosque isolado uma bonita violeta satisfeita entre suas companheiras.Certa manhã, levantou a cabeça e viu uma rosa que se balançava acima dela, radiante e orgulhosa.
Gemeu a violeta, dizendo: “Pouca sorte tenho eu entre as flores! Humilde é meu destino!Vivo pegada a terra, e não posso levantar a face para o sol como fazem as rosas.”
A natureza ouviu, e disse à violeta: “Que te aconteceu, filhinha? As vãs ambições apoderaram-se de ti?”
- Suplico-te, ó Mãe poderosa, disse a violeta. Transforma-me em rosa, por um dia só que seja.
- Tu não sabes o que estás pedindo, retrucou a Natureza. Ignoras o que se esconde de infortúnios atrás das aparentes grandezas.
- Transforma-me numa rosa esbelta e alta, insistiu a Violeta, tudo o que me acontecer será a conseqüência dos meus próprios desejos e aspirações.
A Natureza estendeu sua mão mágica, e a Violeta tornou-se uma rosa suntuosa.
Na tarde daquele dia o céu escureceu-se, e os ventos e a chuva devastaram o bosque. As árvores e as rosas foram abatidas. Somente as humildes violetas escaparam ao massacre.
E uma delas olhando em volta de si gritou às suas companheiras: “Hei, vejam, o que a tempestade fez das grandes plantas que se levantavam com orgulho e impertinência.”
Disse outra: “Nós nos apegamos a terra, mas escapamos à fúria dos furacões.”
Disse a terceira: “Somos pequenas e humildes, mas as tempestades nada podem contra nós.”
Então a rainha das violetas viu a rosa que tinha sido violeta, estendida no chão como morta. E disse:
- Vejam e meditem, minhas filhas, sobre a sorte da violeta que as ambições iludiram. Que seu infortúnio lhes sirva de exemplo!
Ouvindo essas palavras, a rosa agonizante estremeceu e, apelando para todas as forças, disse com voz entrecortada:
“Ouvi, vós, ignorantes, satisfeitas, covardes. Ontem, eu era como vós, humilde e segura. Mas a satisfação que me protegia também me limitava. Podia continuar a viver como vós, pegada à terra, até que o inverno me envolvesse em sua neve e me levasse para o silêncio eterno sem que soubesse dos segredos e glorias da vida mais do que as inúmeras gerações de violetas, desde que houve violetas.Mas escutei no silencio da noite e ouvi o mundo superior dizer a este mundo: “O alvo da vida é atingir o que há além da vida.” Pedi então à Natureza – que nada mais é do que a exteriorização de nossos sonhos invisíveis – transformar-me em rosa. E a Natureza cedeu ao meu desejo.Vivi uma hora como rosa. Vivi uma hora como rainha. Vi o mundo pelos olhos de rosas. Ouvi a melodia do éter com o ouvido das rosas. Acariciei a luz com as pétalas das rosas. Pode alguma de vós vangloriar-se de tal honra?Morro agora, levando na alma o que nenhuma alma de violeta jamais experimentava. Morro, sabendo o que há atrás dos horizontes estreitos onde nascera. É esse o alvo da vida.”
[Gibran Khalil Gibran]

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008




...MEDO DE FICAR E NÃO VIVER....
MEDO DE SAIR E NÃO SOBREVIVER...
MEDO DE VER NOS OLHOS DE QUEM SE AMA
A DOR DA AUSÊNCIA E NÃO PODER CONTER


MEDO DE DECEPCIONAR EXPECTATIVAS DE ALGUÉM QUERIDO
A PRESSÃO NO PEITO DO "PODERIA TER SIDO" ...
MAS NÃO FOI....


NÃO FOI, E OS CACOS DO QUE SE PARTIU JAMAIS TERÃO O BRILHO ORIGINAL DO CRISTAL PRIMEIRO
POR MAIS TEMPO QUE SE GASTE A COLAR.
ALÉM DISSO, NÃO SE PODE NEM AO MENOS CONVIVER COM OS CACOS...
ELES CORTAM....


CORTAM....
E A DOR QUE A GENTE SENTE É DO SANGUE DERRAMADO NOS SONHOS PERDIDOS...
DAS LUTAS QUE NÃO VENCEMOS.
É PRECISO, ENTÃO, JUNTAR OS CACOS.
E TER A CONSCIÊNCIA FIRME DE QUE DELES NADA SE APROVEITA.
NA TENTATIVA INSANA DE APROVEITAR OS CACOS, ELES CORTAM SUA PELE...



JUNTAR OS CACOS DE UMA HISTÓRIA E LANÇÁ-LOS FORA TRAZ INSEGURANÇA E DOR. MUITOS MEDOS SE MISTURAM NUM SÓ TEMOR:
O MEDO DE RECOMEÇAR.


MAS É PRECISO ENXUGAR AS LÁGRIMAS, E LIMPAR O CHÃO, PRA REMOVER QUALQUER VESTÍGIO DE CRISTAL QUEBRADO.
PARA ENTÃO PODER PISAR COM SEGURANÇA NOVAMENTE.
E COMEÇAR UMA NOVA CAMINHADA.


SU

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"AINDA SOMOS OS MESMOS E VIVEMOS COMO NOSSOS PAIS"




As novas teorias sobre educação demoram muito para chegar efetivamente às salas de aula. Este problema vem a ser um dos responsáveis pelo atraso nos avanços educacionais no Brasil.

Enquanto os pensadores contemporâneos da educação como Emilia Ferreiro e Paulo Freire avançaram muito em suas teorias a respeito de temas como alfabetização e socialização da escrita, nas salas de aula o que prevalece ainda é o ultrapassado sistema tradicional de ensino, onde, na prática, o que se aplica são os velhos métodos de memorização e repetição e a antiga concepção de erro e acerto.

Há uma dificuldade evidente na formação dos professores que, apesar de lerem muito sobre construtivismo e pedagogia libertadora, pouco conseguem perceber como aplicar estes conceitos no dia-a-dia de sua prática.

De uma forma geral, há que se reconhecer os esforços dos órgãos públicos e cursos de formação em capacitar e qualificar os profissionais da área para esta nova (nem tão nova assim) realidade das teorias educacionais. No entanto, o próprio sistema inviabiliza os professores na aplicação concreta destes princípios que, presos a grades e currículos, a cobrança de resultados, acabam por voltar-se naturalmente para os antigos métodos tradicionais e tecnicistas.

Desta forma, vemos o cenário da educação recalcitrar entre o velho e o novo, o discurso e a prática, estampando às nossas vistas uma realidade que já foi conhecida pelo nosso país no século passado, agora não declarada: a pedagogia crítico-reprodutivista. Aquela que critica, que condena, mas continua fazendo.

Responsabilizar os professores individualmente pela resistência ao novo é o mesmo que culpar os pobres pela pobreza. Então matam-se todos os pobres, e acabou-se a pobreza. De igual maneira, o que causa esta dicotomia entre o avanço das teorias e sua aplicação é algo de abrangência muito mais ampla, o próprio sistema de ensino, incluindo-se as leis educacionais.

O sistema de ensino no qual hoje vivemos foi criado, como de praxe, aos moldes do modelo econômico da nossa sociedade. Ele existe, portanto, para viabilizar o capitalismo, ou seja, o sistema liberal de consumo. Desta forma, qualquer avanço no sentido de socializar a educação não é mais que um instrumento de luta dos educadores para transpor tal sistema. Então, por mais que os pensadores da educação tenham suas teorias reconhecidas e apoiadas oficialmente, o próprio sistema sempre será uma barreira para as mesmas, já que a educação, no modelo capitalista, sempre separa os ricos dos pobres, os que dominam o conhecimento dos que são dominados, pois nisto consiste o cerne do capitalismo.

O que conta, na conclusão de tudo, continua sendo o comprometimento pessoal do professor, que faz seu serviço de formiguinha, acreditando estar removendo montanhas. E no final está mesmo, pois está formando a opinião de uma nova geração de pessoas, e influenciando a relação entre elas. O sistema sempre impedirá, mesmo parecendo apoiar, a efetivação completa das teorias educacionais que libertam o povo. A escolha diária de cada professor é que faz a diferença. Todo o resto é demagogia.
SU

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"O dominado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que

os dominantes dominam. Então dominar o que os dominantes

dominam é condição de libertação."

Dermeval Saviani

DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO: REFLEXOS



“Não se pode dar aquilo que não se tem”.

Sabedoria popular, conceito simples de se compreender, pois parece óbvio que não podemos oferecer aquilo que não possuímos. Desta forma, a democracia não pode encontrar lugar dentro dos muros da escola, se ainda não se configura no país de maneira efetiva.

Todas as discrepâncias encontradas no contexto social do país refletem-se na educação, que faz, de uma forma geral, o papel de reprodutora desta realidade dicotômica, daqueles que dominam contra os que são dominados, todos sob o fino véu da democracia, tão frágil ainda em suas estruturas.

A despeito de todas estas contradições, o profissional da educação necessita renovar sua crença na força da democracia, apesar de não enxergá-la na prática. Sob este aspecto, o educador torna-se um visionário, aquele que enxerga além dos outros. E deposita suas esperanças na força das novas gerações, ainda em formação, como os que terão a chance de ver a democracia como um sistema de possibilidades reais para todos.

Remar contra a maré numa luta solitária, pregar a igualdade numa terra de ninguém, eis a tarefa árdua do educador. Mas se os esforços empregados puderem fazer a diferença ao menos para uma criança, se oferecer dignidade ao menos para um adolescente, já terá valido à pena. E o país terá se tornado mais democrático, de fato.
É preciso acreditar nisso para continuar a luta.
SU

domingo, 26 de outubro de 2008

O CORDEIRO DO SACRIFÍCIO : VIVA O CAPITALISMO!



Assistimos com assombro a cada vez que a degradação violenta da vida humana nos invade as casas sem pedir licença, evidenciando nossa própria fragilidade.

Quanto mais se explora a violência explícita, mais tempo o povo fica grudado no comercial, esperando o próximo bloco do telejornal e salivando pelo cheiro de sangue.
E dá-lhe multinacional "nas fuças".

De vez em quando, alguém tem que morrer.

É como o cordeiro do sacrifício, pra manter o sistema na linha, pra viabilizar o capitalismo com sangue fresquinho. Ora, veja se não é. O menino arrastado pelo carro, Isabela Nardoni, Heloá, todos cumprindo seu destino de cordeiro imolado, todos com prazo de validade para serem esquecidos.

E enquanto nos sentimos estupefatos com a crueldade da vida urbana, tomamos um copo de coca-cola, e programamos as próximas compras no cartão.

No horário nobre, o que assistimos é a banalização da vida, o infanticídio, a atrocidade escancarada. É nesse contexto que as propagandas mais caras são inseridas, com o pressuposto de que a massa nacional esteja colada na tela, sem pestanejar. É exatamente ali, no meio dos tiros, do sangue e das lágrimas, que as opiniões vão sendo formadas e a necessidade de consumo vai se configurando em real no imaginário popular.

Não se fala de literatura, de exposições de arte nem de avanços no campo educacional, no principal bloco jornalístico do horário nobre. Amenidades que não rendem pontos de audiência são deixadas para o meio-dia, quando crianças apressadas engolem o almoço e saem disparadas para a escola, enquanto suas mães, atarefadas, nem os olhos passam pela televisão. São, enfim, matérias para ninguém ver. E o que se anuncia nesse período? O que houver de mais barato, propagandas locais.
As multinacionais deixam para mesclarem-se com aquilo que atiça a curiosidade humana, o quê de carniceiro que existe dentro de cada um e que não nos deixa desgrudar da tela: o prazer de explorar e esmiuçar o sofrimento alheio.

Um dia desses, um cidadão de bem ouve a vizinha sendo espancada pelo marido, e ao fundo o som de um bebê chorando. Desesperado, liga para o 190, esperando o amparo e socorro da lei. E o que escuta como resposta?
“Olha só, se o senhor estiver disposto a ir até a casa da pessoa e se identificar como quem denunciou a gente até vai. Mas não vai adiantar, porque essas mulheres nunca registram queixa mesmo...”

Seja na televisão, seja na polícia ou em que esfera for, o que está em jogo não é o valor da vida humana, mas o valor que uma vida humana pode render.

E quando paramos nossas vidas para acompanhar na mídia este tipo de exploração da violência, do sofrimento humano, pondo-nos a descobrir todos os detalhes, a ver repetidas vezes a mesma notícia, acabando por conhecer a história de trás para frente, estamos colocando o óleo que move a engrenagem da especulação capitalista ao padecimento alheio.

Não nos importamos com o sofrimento do vizinho, mas nos assombramos e indignamos com a amargura em rede nacional. Vamos assim nos anestesiando em relação aos que sofrem ao nosso lado, por considerarmos normal, corriqueiro, e portanto, nada fazemos. O que passa na televisão, sim, é que nos interessa.Com isto nos comovemos, nos tocamos, mas a fome, a dor, o abandono e desamparo que estão ao nosso lado, nem mesmo enxergamos.

Enquanto isso, empresários vendem de tudo e ficam cada vez mais ricos. Nós, sem perceber, nos tornamos cada vez menos humanos, e vamos nos transformando em máquinas de comprar. Amanhã, mais uma criança ao altar do sacrifício. É o preço que pagamos, e pagamos rindo, bebendo, especulando. Sim, desde que esta criança não seja a nossa.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

"AS CARTAS QUE NÃO MANDEI"


Esta é uma carta escrita por minha mãe no período em que residia em Campo Grande, MS, e encontrada pelo meu irmão mais velho logo após o seu falecimento, em junho de 2000, num acervo particular feito por ela, chamado "As Cartas que Não Mandei". Tesouros de família...não têm preço...




Querida Volta Redonda
“Cidade do Aço”, cidade bonita, cidade de todos, cidade minha. Eu amo você. Nas tuas ruas eu cresci (mas não muito), debaixo do teu céu eu fui feliz, entre tuas montanhas eu vivi protegida quase toda minha vida e sou muito grata por isso. Vivo na esperança de um dia poder voltar a ti, porque aí é o meu lugar. Sinto uma saudade danada de voce!
Quero que me perdoe por ter te deixado um dia e que saiba que nunca te esqueci.
Terra dos sonhos... gente chegando de todo lugar, inclusive meu pai que chegou em 1958. Cada um trazia consigo o coração cheio de esperança e você nunca decepcionou ninguém. Todos conseguiram prosperar – uns muito, outros pouco; mas todos melhoraram suas vidas. Povo forte como o aço que destila dos seus alto-fornos; povo quente, alegre e corajoso.
Alguns reclamam, murmuram, falam mal, mas permanecem aí. Ir para onde se aí é o melhor lugar do mundo? Os poucos que saem um dia com certeza voltam ou então se lamentam de saudades pelo resto da vida. Não é o meu caso, porque certamente voltarei. Voltarei porque te amo.

Cacilda
*Ela voltou. E seis meses de luta depois, faleceu, onde queria ficar para sempre. Ainda bem que Deus conhece até mesmo as cartas que não conseguimos mandar....

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

domingo, 5 de outubro de 2008

SU E ELIVELTON


A apresentação no UGB, no dia 3 de outubro, foi tudo de bom, gostamos muito!!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

PEQUENA GIGANTE


Pé ante pé eu me levantava da cama e ia devagarinho, descobrir de onde vinha aquele barulhinho estranho de folhas de árvore caindo. Quando abria a porta, podia ver, à meia-luz da cozinha, uma figura magra e pequena debruçada sobre a mesa, passando páginas... Lá estava ela, mergulhada nos livros, os mesmos livros repetidos que tantas vezes leu. Livros usados que comprava no sebo ou que emprestava de alguém. Edições antigas que ela guardava como se fossem tesouros, e livros de família que pareciam mágicos pra mim.

Durante toda a infância eu me deparei com esta cena: minha mãe sentada, lendo e escrevendo, na sua pouca instrução, no seu infinito discernimento de mulher moldada pelas dificuldades da vida. E esta influência perene desperta grande gratidão em meu coração.
Ela era a sabedoria em pessoa. Seus lábios calavam o que os olhos insistiam em me dizer, e ainda hoje eu tento desvendar o que aquele olhar escondia.

O contato com a leitura e a escrita foi decisivo para nosso futuro, meu e de meus dois irmãos mais velhos.
Nós nos libertamos de todo o estigma que as crianças da periferia carregam, fadadas a ser menos, simplesmente porque um sistema assim determinou. Nossa mãe rompeu esta barreira para nós, e nos ensinou a levantar a cabeça, a não ter medo de olhar nos olhos, nem de falar de igual para igual com qualquer pessoa, e de reconhecer a necessidade de sempre aprender mais. Hoje tento seguir seu exemplo, e exercer sobre meus filhos a mesma influência inspiradora da qual tive o privilégio de desfrutar.

Nesta tentativa de me igualar a ela é que descubro minha fraqueza. Ela que, com seus quatro anos de estudo regular, pôde transformar nossa vida para sempre com seu gosto pela leitura, sua capacidade de raciocínio, seu domínio impressionante da lógica e da coerência textual quase instintivas, me presenteava muito mais com livros do que com brinquedos. Eu com minha cara feia, que esperava mais uma boneca...jamais poderia medir o tamanho daquele gigante que chamávamos de mãe.

Ela se foi e deixou um legado do qual temo não dar conta: passar para meus filhos os valores e as prioridades que a mim foram deixados. E o que me faz vacilar é reconhecer que o efeito do meu exemplo terá neles a mesma força que o dela sobre mim. Pequena em sua estatura, gigante em sua sapiência, passou pela minha existência sempre despertando em mim algo de grande, maior que eu mesma, porque ela assim me enxergava, posto que me amava.

E se eu, em minha fraqueza, conseguir alcançar metade de tudo o que ela ensinou, tudo o que fez e tudo o que amou, terei cumprido com honra minha missão de mãe.

Su

VISITEM:

http://pedroeeduardo.blogspot.com/

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

ESPELHO VELHO





A imagem que vemos no espelho não é apenas a estampa exterior de nós mesmos que enxergamos, aquela que primeiro nos apresenta. Ela guarda marcas e impressões deixadas pelo tempo, sem as quais não seríamos o que somos hoje. Cada um de nós é um amontoado de lembranças,um quebra-cabeças cujas peças são as experiências vividas refletidas em nosso comportamento e imagem de agora.

De igual maneira, nosso país guarda na memória nacional os aspectos do passado, e estes constituem a cultura de que hoje fazemos parte, e nos influencia dia-a-dia à medida em que construímos nosso futuro.

A colonização de exploração a que este território foi submetido, e as marcas da corrupção imperial ainda se fazem presentes em nosso cenário, influenciando e muitas vezes determinando as escolhas que fazemos hoje, quando elegemos nossos dirigentes e decidimos os rumos políticos do país. Mais do que isto, esta cultura se reflete no cotidiano, nas pequenas decisões que tomamos em nossa vida, as quais, somadas, formam o ideário nacional.

A inconsciência coletiva nos faz caminhar como um rebanho sem pastor, fácil de ser manipulado e levado em qualquer direção. Assim, nosso futuro vai sendo traçado pelas mãos de outros. O despertar da consciência tem suas raízes na educação. É através dela que passamos a ter condições de analisar o passado e medir sua influência no presente, podendo assim projetar um futuro onde o peso do determinismo cultural seja sentido apenas até onde decidirmos permitir.

As marcas do passado que todos nós carregamos, seja individual ou coletivamente, só podem ser modificadas e abandonadas depois que nos conscientizamos da existência delas. Do contrário, o futuro será apenas uma reprodução incessante do passado, com maquiagem nova. Conhecer nossa História de corrupção, e sua influência em nossa cultura são condições primordiais para que a mesma não se repita.

Su

domingo, 21 de setembro de 2008

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

MINHA AMIGA CLAUDINHA E EU


Visitando a sala do segundo ano de Pedagogia: um monte de comidas gostosas e um belo trabalho apresentado. Muito legal!!!!!!!

sábado, 6 de setembro de 2008

PROFISSÃO DE FÉ


Dentre as virtudes que devem ser inerentes ao professor, talvez a mais valiosa de todas seja a legitimidade. Ensinar aquilo em que não se acredita, o que não se vive, a postura que não se toma na prática, é enganar a si próprio e aos outros, e manchar o nome da profissão de educador.


Ensinar torna-se, portanto, sob este aspecto, uma profissão de fé. Não é suficiente apenas acreditar naquilo em que
se ensina, pois fé não se resume a crer, somente. A fé é um princípio que nos leva à ação. Sendo assim, ao empunhar a bandeira da educação como profissão, é necessário que se cumpra a exigência de comunicar e agir.



Ao ensinar conceitos e posturas, certamente nos deparamos, cedo ou tarde, com a incumbência de defender uma causa em que ainda não somos perfeitos. Este impasse é inevitável, ao longo da jornada do educador. O que não deve, porém,transformar-se numa barreira para o professor que, imperfeito, busca o aprimoramento de suas capacidades continuamente. Ao contrário, o professor que humildemente reconhece a necessidade de ampliar seus conhecimentos e rever suas atitudes, constrói uma ponte pela qual educando e educador podem se edificar juntos e construir conhecimentos significativos.

A postura que se espera, portanto, não é a inatingível perfeição, mas a consciência da imperfeição pessoal, o reconhecimento de si mesmo como incompleto e nunca detentor da verdade absoluta, posições defendidas incansavelmente por Paulo Freire em suas reflexões.

Um professor que não vive o que ensina causa marcas indeléveis naqueles a quem sua influência atinge. Nas crianças, que ainda não racionalizam o bastante, uma imensa contradição. Nos jovens, indiferença debochada que compromete o aprendizado. E nos adultos, indignação e descrédito.


Faria um grande bem à educação a existência de uma disciplina especialmente preparada para ensinar os mestres a admitir: "Não sei".

*Trocando em miúdos:
O feio não é ensinar aquilo que você não faz. Todo mundo tem que fazer isto um dia. O feio é ensinar aquilo que você não faz e ainda dizer que faz.

Su

segunda-feira, 1 de setembro de 2008



"Se as coisas existem para serem usadas, e as pessoas para serem amadas, porque tantos amam coisas e usam pessoas?"

domingo, 31 de agosto de 2008

VOCÊ SABE QUE MENTIRAS ESTÃO CONTANDO AOS PAIS DELE?



Quando instaurou-se a ditadura no Brasil, fecharam-se editoras, jornais, foram presos artistas e políticos. Não havia desculpa nem disfarce para a violência. No cenário de hoje, vemos outro viés para a mesma prática de calar a boca dos que falam demais: a manipulação da opinião pública.

Em recente reportagem da revista Veja,intitulada "VOCÊ SABE O QUE ESTÃO ENSINANDO A ELE?" edição nº 2074, de 20 de agosto deste ano, com grande repercussão em todo o país, vimos apresentar-se diante dos olhos da nação um discurso no mínimo perigoso, para aqueles que não possuem o básico de informação histórica e espírito senão crítico, ao menos desconfiado.

Cheia de pontos obscuros e mal interpretados, maliciosamente montados e distorcidos, a reportagem veio mais uma vez mostrar do que são capazes aqueles que se vendem para o poder. Manipuladores, é o que são. Colocam toda a responsabilidade das mazelas da educação brasileira sobre os ombros dos professores, acusados de “esquerdizar” as mentes dos alunos desde o ensino fundamental. Culpar os professores é providencial, quando cada vez mais estes se esforçam para abrir os olhos de seus alunos para os engodos da História. Seriam eles culpados? Por quê? Seria por que os professores têm passado a ensinar a real História do Brasil? Porque têm feito questão de contar o verdadeiro motivo de existir a seca no nordeste, a fome, a miséria? Quem está ofendido com isso? Certamente a quem esses infortúnios não atingem.

Usam o fato de 29% dos professores entrevistados identificarem-se com Paulo Freire, 10 % com Karl Marx, contra apenas 6% que se inspiram em Albert Einstein, para fundamentar a idéia de que os mestres esquivam-se da ciência pura, fogem à exatidão científica. O que a pesquisa não explica é qual categoria de professores foi entrevistada, haja vista que é perfeitamente normal e previsível que professores de ensino fundamental e disciplinas pedagógicas identifiquem-se com Freire, ao invés de com Einstein, lembrando que não se identificar nunca significou não conhecer, ou mesmo negar. Paulo Freire e Karl Marx têm, ambos, exatidão científica! As Ciências Sociais também são Ciência, minhas caras jornalistas! Mas tais "profissionais", distorcendo fatos e omitindo dados relevantes, seguem assim, manipulando opiniões.

A reportagem condena a ideologia, de qualquer espécie, e exalta a neutralidade política na educação, como se esta fosse possível. A neutralidade, por si só, já é uma apologia disfarçada ao sistema dominante. Esta é uma matéria ideológica até a raiz dos cabelos. Altamente reacionária, publicada por uma revista reconhecidamente de DIREITA, direcionada a formar opinião que favoreça sempre quem está no poder, para reproduzir e manter o mesmo cenário. Necessário é que seja analisada com muita cautela por parte dos educadores.

Defendem a educação como mera mercadoria, criticando quem entende a missão da escola como construtora da cidadania e preparatória para a vida em sociedade, conceitos claramente declarados na Constituição Federal , pela ONU e pela UNESCO.

A escola falha em sua missão quando serve de reprodutora do modelo atual de opressão e segregação social, quando serve de “chocadeira” como citado na revista, somente transmitindo conteúdos sem avivar o espírito crítico e a consciência de cidadania,reproduzindo assim, máquinas humanas prontas para o trabalho. A formação do cidadão é SIM a maior missão da escola, em todos os seus parâmetros, formar e preparar o indivíduo para agir e transformar a sociedade em que vive, AGIR SOBRE ELA, e não receber a ação passivamente, trabalhando por um salário e indo para casa no fim do dia, de boca fechada. Só é possível cumprir efetivamente esta missão quando a educação consegue articular as duas faces desta mesma moeda: capacitar profissionalmente para a inserção no mercado de trabalho e formar o espírito crítico-reflexivo. Qualquer tendência a subestimar uma das duas, se constitui em falha na missão da escola. Não é abafando uma delas que se resolve a outra, como propõem as duas jornalistas mal informadas.

Existem os erros e os exageros de ambos os lados, direita e esquerda, na História da civilização moderna. Analisar apenas um dos lados é deixar de contar metade da história. Este é um paradigma da direita. Há interesses em calar os educadores do país, e se há, é porque começam a incomodar, ou então, devo supor que Papai Noel existe. Há os educadores esquerdistas fanáticos que não vivem no mundo real, assim como ainda temos os professores reprodutores em seus cabrestos. Olhando o problema por apenas um aspecto, esconde-se o outro, propositadamente. E o que se pretende esconder? Certamente os crimes contra os direitos humanos cometidos por décadas e décadas de governos "direitistas". A quem seria um opróbrio denunciá-los nas salas de aula brasileiras?

A reportagem sim é tendenciosa, manipuladora e perniciosa, e não os educadores do nosso país, muitos dos quais dão seu sangue para conseguir sua formação acadêmica, pagam pelo material didático que usam do próprio bolso, e “vendem o almoço para comprar a janta”. Estaria Paulo Freire revirando-se no túmulo? Não... se estivesse entre nós o máximo que faria seria dar um largo sorriso, à ignorância engajada das duas jornalistas. Tal ato impensado é de tão grande bizarrice que merece compaixão. A reportagem, no lugar de lançar acusações sobre Freire de não ter contribuído efetivamente para a civilização ocidental, deveria ter pesquisado um pouco sobre o que ele ensinou, o que fez, o que desenvolveu, e seu legado. Assim descobririam porque muitos dos mestres de nossos dias têm nele se inspirado.

Sempre vão existir os que lutam contra a liberdade de expressão, de ação e de pensamento, na história da Sociedade. Render-se a cada vez que um deles aparece é sepultar em si mesmo os valores pelos quais morreram os verdadeiros heróis da humanidade. Porque ser herói é enxergar a possibilidade de mudanças, lutar por elas, e pagar o preço por isso.

Calar os professores brasileiros torna-se mesmo um poderoso instrumento para manter as coisas como estão. Não é a primeira vez... não será a última. Mas a mordaça de agora, um dia, reduzir-se-á a nada pelas mãos dos que, assim como Freire, têm ainda a capacidade de se indignar.


Su


Abaixo, o link da reportagem:

http://veja.abril.com.br/200808/p_076.shtml


*Acréscimos e correções feitos pelo meu professor do coração.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

SÓ PALAVRAS




Andava perdida na vida, riscando sonhos e endireitando desejos , aparando as pontas de mim mesma que já sobravam daquilo que um dia fui.
Afundada no resto de esperança de talvez encontrar a metade cortada de minh'alma que, enfim, nunca encontrei. Só pra esquecer o que eu já sonhei pra mim....só pra esquecer o que eu já sonhei pra mim.


Fazendo a curva do desengano encontrei você, pedaço de pessoa esquecida do que um dia foi, afundada no resto de lembrança do que ainda nem chegou a ver. Só pra me fazer viver...só pra me fazer viver.

Na desculpa de não te deixar morrer, me agarrei com toda a força do meu ser, misturando assim meus desencantos com os seus, deixando a luz entrar, embora devagar, nestas almas por tempos obscuras, imersas em oceanos de amarguras, enxergando a morte ir, e o amor nascer....e o amor nascer.

No cotidiano deste amor é que eu redescubro a vida. Um dia após o outro reforçando a certeza absoluta de que ainda muitos virão. Só pra amar você...só pra amar você.

VOCÊ ESPANTOU TODA A NÉVOA DE DESESPERANÇA E CALOU AS VOZES DE DESENCANTO E DOR QUE GRITAVAM DENTRO DE MIM.

FEZ SOAR UMA CANÇÃO SUAVE, ME FAZENDO CRER QUE POSSO VOAR PARA ONDE MEU CORAÇÃO MANDAR...MAS ELE QUER FICAR. FICAR COM VOCÊ.

Su

domingo, 24 de agosto de 2008



"Por tanta dor, por tanta emoção, a vida me fez assim...doce ou atroz, manso ou feroz, eu...caçador de mim."

sábado, 23 de agosto de 2008

O MENINO E A SAUDADE


Ele era meu amigo mais chegado, nos tempos de molecagem. Tínhamos alguns anos de diferença,mas ainda assim éramos companheiros de segredos e traquinagens, subíamos em árvores, corríamos pela rua despreocupados, bons tempos....
Uma vez, descobrimos um cano d'água que vinha da rua de cima, quebrado...e descobrimos também que quando jogávamos uma pedrinha lá dentro, que barulho engraçado fazia!!! Daí a jogar trezentas foi um pulo.
Logo esquecemos a brincadeira, e no outro dia ouvimos, sem entender, aquela zoeira de tratores chegando, de homens cavando, britadeiras...nunca contamos nosso segredo a ninguém, só depois de adultos...mas na verdade, sentíramos uma pontinha de orgulho em sermos nós dois, os entupidores da rua...
Meu primo desenvolveu uma técnica muito aprimorada de roubar peixinhos dourados na loja de agropecuária, e por isso ficou famoso entre a turma. Ele chegava, como quem não queria nada, parecendo uma daquelas crianças que ficam hipnotizadas pelos bichinhos...que nada!!! Era ele a hipnotizar...enfiava a mãozinha branca com uma velocidade impressionante e saía em disparada, com o peixinho apertado entre os dedos, o qual chegava, muitas vezes, mortinho da silva em casa, pela pressão exercida sem maldade, no susto da corrida. Mas alguns se salvaram. Eram como troféus. Até que um dia minha tia descobriu, com a contribuição do dono da agropecuária... Acabou-se a coleção e a festa.
Noutra vez, bolamos um plano infalível: resolvemos cavar um buraco na parede que ía do quarto do meu tio até o banheiro, entre um velho armário da minha avó e algumas vassouras.Trabalhamos por semanas, medindo e calculando tudo meticulosamente. Éramos pequenos, a empreitada era arriscada e desafiadora. Quando finalmente conseguimos, passamos a fazer os testes: ele foi para o banheiro olhar, conferir se havíamos calculado a direção exata do vaso sanitário. Eu de olho no buraco, vejo uma coisa estranha aparecer, e um jato quente no meu olho! Urinou, traiu a própria companheira de trabalho!
Inesquecível...
Daí pra frente, foi um divertimento sem fim... Vimos toda a família pelada, morrendo de rir. Vimos nosso avô bêbado - não, trêbado - fingindo que tomava banho, durante dias. Nossa avó, tio, tias, primos, "todo mundo como veio ao mundo". Era só alguém ameaçar tomar o rumo do banheiro que lá íamos nós, "ventando", como dizia a "vó". De vez em quando apareciam inconvenientes anteninhas de barata no nosso observatório secreto, as quais espantávamos com gravetos e assopros. Um dia minha avó descobriu o buraco, e impiedosamente mandou tapar com massa. Assistimos com tristeza. Uma pena...
Chupamos muita manga verde com sal, escondidos na escada atrás de casa, pra não apanhar. Rimos, choramos, enterramos juntos meu porquinho-da-índia, morto por um cachorro da rua, e depois, não demos paz ao cachorro.
Hoje, meu primo e eu quase não nos vemos mais, é coisa rara. Ele tem muitos compromissos com a igreja, e eu com meus filhos, a vida vai passando.
Não que moremos longe, é ali mesmo, a quinze minutos daqui . No entanto, a correria da vida é que se traduz na maior distância entre as pessoas. Mas a amizade ingênua e descompromissada dos tempos da infância permaneceu no coração. Em sua homenagem, registrei meu filho mais novo com seu nome, sob protestos de " coitado do menino!"
Ainda não encontrei uma amizade mais sincera do que a que tivemos, mais profunda, mais satisfatória. Contudo, cansei de procurar o amigo ideal. Ele já existe, cresceu, tomou corpo, e saiu pela vida, ficando sem tempo pra nós. Só que eu ainda sinto falta... Hoje é seu aniversário, vinte e cinco anos, e eu não apareci na sua casa, não mandei e-mail, porque não sei o seu e-mail ... Mas o coração apertou, a saudade doeu e as lembranças trouxeram mais uma vez a presença de uma amizade que nunca morre.

Su

SEJA AQUELE AMIGO (hino O. M.)


O que é certo eles sabem
E o errado também
E os amigos sabem, não é fácil escolher
Mas o amigo leal que te guia para o bem
É do tipo que não poderás perder.

E o verdadeiro amigo que a teu lado sempre está
Sua ajuda é sempre feita de amor.
E faz mais que falar, sempre guia teu andar
No caminho que te traz de volta ao lar.

Ele até parece ver o que você pode ser
Mesmo que você erros venha a cometer
Seu amigo sempre crê no que há dentro de você
Pois ele sabe, você é um vencedor

E o amor que sente deste verdadeiro amigo
Tem mais força que tudo que possa haver
Pois é ele que te eleva, fortalece e enobrece
É o que faz sua alma mostrar seu valor.

São muitas vidas que melhoram
Deste amor que nunca cessa
E não precisa cessar
Pra sempre amigos....

Todos querem achar esse amigo fiel
Pra contar em qualquer hora e lugar
E você pode ser esse amigo para alguém
E sua vida de alegria se encherá......

sábado, 16 de agosto de 2008

AQUELA MULHER



As ocasiões em que mais aprendemos, não são, absolutamente, quando ganhamos algo, mas sim, quando perdemos. Poucas oportunidades na vida de um ser humano serão tão cheias de lições a se aprender como quando se perde a mãe.

Assim que perdi a minha, em junho de 2000, comecei a compreender uma série de coisas que nem haviam passado pela minha mente até então. Uma delas é que, logo que uma pessoa perde sua mãe, perde junto com ela, seu referencial de vida. Nada é mais forte do que as impressões deixadas por uma mulher na mente e no coração de seu filho. Ela é a fonte e o início de tudo, sua âncora, muito embora quase nunca se perceba. Assim que esta mulher se vai, você se pega andando assim, meio de lado, cambaleando mesmo, e demora algum tempo até conseguir se equilibrar de novo no mundo. É porque perdeu seu referencial.

Outra coisa que se aprende é que ninguém, não importa o que aconteça, jamais, em tempo algum, o amará da mesma maneira que ela. Isso se refere às coisas práticas da vida, do dia- dia. Poderá encontrar, no decorrer da vida, pessoas que gostarão muito de você. Talvez tenha a sorte de ter avós, tios e tias que lhe amem de verdade. Mas aquele amor, que aquela mulher lhe oferecia, nunca mais. Um amor capaz de motivá-la a deixar qualquer plano, desejo ou projeto de lado pela integridade e bem estar da cria. Pare por um momento e pense: quem já fez isso por você? Existem pessoas boas no mundo, que realmente se importam com o outro, mas sacrificar a si mesmo, só aquela mulher poderia fazer, daquela forma. Portanto,quando alguém bem intencionado lhe disser a frase "eu te amo como se fosse meu filho", dê-lhe um largo sorriso, agradeça... talvez esse alguém acredite mesmo que o ama assim. Mas lembre-se: ele não sabe o que fala. E no ato de não saber, não se encontra nele culpa alguma, pois somente quem já perdeu aquela mulher é que consegue entender a impossibilidade de tal amor em alguém que não seja ela. Ninguém mais pode compreender. É o tipo de conhecimento que não se transmite. Apenas vive-se.

Aprendemos que muitos dos sacrifícios que fez, o fez por puro prazer. Exatamente, ela sentia prazer em fazê-los. O que não os descaracteriza como sacrifícios, de maneira alguma, porque só lhe causavam prazer porque eram por você.

Por mais que estas palavras soem suave aos ouvidos, elas só terão significado real no dia em que "aquela mulher" da sua vida se for. Se ela já não está mais aqui, certamente eu só vim traduzir aquilo que você já sabia e, talvez, não tivesse expressado ainda desta maneira.

No fim, o sentimento que fica mesmo é o de que aquela mulher era uma só. Portanto, se você tem a felicidade de ainda encontrar a sua "aquela mulher "ao seu lado, saiba que igual a ela, jamais haverá. Fique ao seu lado, abra mão do que for necessário para isto. Ela irá embora um dia, e se você pensa não ter nada a oferecê-la, talvez a lição que aquela mulher queira com mais angústia lhe ensinar, possa ser traduzida nas palavras de outra grande mulher:
"Estar também é dar.” (Clarice Lispector - Amizade Sincera)

Su

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

MURALHAS PEDAGÓGICAS E MARCAÇÃO HOMEM A HOMEM


MURALHAS PEDAGÓGICAS E MARCAÇÃO HOMEM A HOMEM

Pior do que desrespeitar os direitos humanos é fazer isto e ainda manter a fama de bom camarada. Assim é na nossa sociedade, com a maioria dos órgãos, instituições e pessoas que supervalorizam a violência, a corrupção e o preconceito, sempre fazendo o tipo bondoso e desinteressado. Um exemplo claro do problema é a baixa qualidade dos programas infantis de TV aberta no Brasil.

Desenhos infantis onde podemos ouvir coisas do tipo “é muito bom matar as pessoas”, ou”matar um índio sempre foi o meu maior sonho”, ou ainda “possua-me, senhor das trevas” , decididamente não é a melhor opção para quem deseja formar uma sociedade pacífica. Mas a apresentadora está lá, linda e loura, com voz de criança e quase sem roupa, repetindo sem parar frases feitas e meia dúzias de disparates, enquanto as crianças vibram e os adultos entregam a formação de seus filhos para quem se interessar mais do que eles próprios, o que não é difícil.Nem procuram saber o que seus filhos assistem, e se sabem, não se importam. E a nova geração vai sendo criada.

Numa sociedade onde o materialismo é supervalorizado, e que as mínimas condições de sobrevivência são negadas a uma maioria, a violência aflora, invariavelmente.É a lei do ajuste. A miséria não faz tanta diferença num país onde o ideal de vida é a meditação e o desligamento da matéria. No entanto, vivendo num lugar onde quem não tem “aquela roupa” ou “aquele carro” fica fadado a viver à margem do resto da sociedade, é mais difícil meditar. Não podemos fechar os olhos em qualquer lugar.

Os que mais sentem são os jovens, por estarem em fase de adaptação e de busca pela aceitação e reconhecimento. Não tendo como se ajustar, optam por caminhos perigosos e se perdem.

A escola não é senão um ponto de convergência de todos estes conflitos vividos pelos adolescentes, sementes de uma sociedade doente, que morre aos poucos por desejar ter o que não pode, por trabalhar demais em busca do que pensa precisar para viver, por desejar não ter que trabalhar tanto para nada ter.E o jovem acompanha todas estas tendências.

Cada vez mais a responsabilidade pela solução de todas as mazelas sociais se volta para a escola, como última alternativa de intervir nesse jovem que sofre da doença social. Nos ombros do educador repousam todas as expectativas. Porém, não podemos esquecer que este mesmo educador enfrenta desafios iguais, e está inserido no contexto. Ele também tem medos e dúvidas e, na maior parte dos casos, não é capacitado como deveria. O que resta então,é o compromisso de cada educador com a transformação daqueles a quem ensina. A"marcação homem a homem”, mais conhecida como relação interpessoal entre educando e educador.

A velha concepção pedagógica, que insiste ainda em usar resquícios do “princípio da autoridade” da longínqua escolástica, não cabe mais nesta realidade onde as relações se tornaram tão complexas e os recursos de informação se propagam à velocidade da luz. A escola se levanta como apoio ao fim da violência, do preconceito e da corrupção sim, mas somente quando consegue se tornar mais que paredes, mesas, carteiras, professor. Quando passa a ser casa, abrigo, ninho, dando aos jovens aquilo que estes já não encontram mais lá fora. E isto, claro, custa caro, custa tempo e muralhas pedagógicas milenares ao chão. Há quem não queira, e prefira ver a doença matando enquanto faz cara de paisagem. Não há como educar sem estar envolvido, muito menos fazê-lo e sair sem alguns arranhões. Arranhões doces, para o verdadeiro educador, pois trazem as verdadeiras mudanças. Educar é transformar - e ninguém transforma nada com as mãos limpas. Portanto, para educar e transformar, é imprescindível envolver-se.



Su

HOMEM NÃO PRECISA SER BONITO. NÃO SENDO UM VERME, JÁ TÁ BOM.


Minha prima e eu somos amigas e confidentes. Numa tarde preguiçosa dessas, chega ela em minha casa, se dizendo muito empolgada com um rapaz do trabalho.Mostrou a foto, rapaz educado, fino, muito sensível, segundo ela.E ainda por cima, lindo.....Pediu pra que eu o adicionasse no meu msn, não achei nada de mais.
Depois de um "oi" cordial, o rapaz e eu trocamos duas ou três frases e nos despedimos. Para minha surpresa, bastou a prima ficar offline para a criatura me chamar de novo.
"Oi, linda! Seu marido já dormiu? Liga a câmera aí!! Liga!!"
Aí, fiquei com aquela cara de palmito.....e agora? Minha prima acreditando que o indivíduo era um príncipe épico, apaixonado até a raiz dos cabelos, e eu ouço aquilo.....bom....falei pro meliante que dali, não levava informação nenhuma para a Giovana (vamos chamá-la de Giovana, ok?).E o pobre acreditou....."Alô, Gi!Corre aqui, que preciso contar uma coisa, urgente!"
Agora, pensa comigo: as estatísticas mostram que cresce a cada ano o percentual de mulheres que se assumem publicamente como lésbicas.Porque será? Porque? Isso traumatiza, gente!!Deveria caber indenização, pra pagar analista.
Pois a Gi e eu resolvemos rir. Marquei com ele um dia especial, pra ligar a câmera. Enrolei pelo menos um mês, só provocando, minha prima falava, e eu repetia,que divertimento salutar!Que pessoa insistente!
Finalmente, o dia chegou. Eu liguei e vi, o cara de pau, safado, que continuava a achar que enrolava a Giovana e se dava bem comigo, ao mesmo tempo. Sentamos, a Gi segurava a travessa
de pipoca, e ficamos vendo aquela cena deprimente, de um nada homo e muito menos sapiens se estrepar.

"Levanta. Dá ma voltinha. Acende a luz "(e quem disse que eu conseguia parar de rir?). Minha prima falando:" faz, caramba, faz, ele vai desconfiar." E eu tendo crise de riso....na hora travei, nem olhar pra câmera eu conseguia.
O bonitinho então, contrariado, disse: "eu gosto muito da Gi....ela é muito maneira....."
A que eu respondi: "Qual? Essa?"

"Ooooi!!(...)"
Verde, azul, violeta, amarelo, todas as cores do arco-íris....adoro cores....principalmente quando aparecem todas, na cara de quem se acha esperto...mas não é!
Analista? Pra quê?


Su

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Enquanto vale à pena


Enquanto vale à pena, brigamos, xingamos, nos atracamos com unhas e dentes.Demonstramos raiva e dor.Uma fúria uterina de quem não se contenta.E fazemos cara feia, bico, e até ficamos de mal.Com o passar do tempo, a guerra dá lugar ao silêncio. Para quê brigar, e se debater contra a maré que, é evidente, vai nos vencer no fim? Pra quê perder horas preciosas de sono ou descanso?É...não vale mais à pena.O silêncio nem sempre sinaliza a paz, mas a extinção da esperança. Cuidado....silêncio....

Su