sexta-feira, 15 de agosto de 2008

MURALHAS PEDAGÓGICAS E MARCAÇÃO HOMEM A HOMEM


MURALHAS PEDAGÓGICAS E MARCAÇÃO HOMEM A HOMEM

Pior do que desrespeitar os direitos humanos é fazer isto e ainda manter a fama de bom camarada. Assim é na nossa sociedade, com a maioria dos órgãos, instituições e pessoas que supervalorizam a violência, a corrupção e o preconceito, sempre fazendo o tipo bondoso e desinteressado. Um exemplo claro do problema é a baixa qualidade dos programas infantis de TV aberta no Brasil.

Desenhos infantis onde podemos ouvir coisas do tipo “é muito bom matar as pessoas”, ou”matar um índio sempre foi o meu maior sonho”, ou ainda “possua-me, senhor das trevas” , decididamente não é a melhor opção para quem deseja formar uma sociedade pacífica. Mas a apresentadora está lá, linda e loura, com voz de criança e quase sem roupa, repetindo sem parar frases feitas e meia dúzias de disparates, enquanto as crianças vibram e os adultos entregam a formação de seus filhos para quem se interessar mais do que eles próprios, o que não é difícil.Nem procuram saber o que seus filhos assistem, e se sabem, não se importam. E a nova geração vai sendo criada.

Numa sociedade onde o materialismo é supervalorizado, e que as mínimas condições de sobrevivência são negadas a uma maioria, a violência aflora, invariavelmente.É a lei do ajuste. A miséria não faz tanta diferença num país onde o ideal de vida é a meditação e o desligamento da matéria. No entanto, vivendo num lugar onde quem não tem “aquela roupa” ou “aquele carro” fica fadado a viver à margem do resto da sociedade, é mais difícil meditar. Não podemos fechar os olhos em qualquer lugar.

Os que mais sentem são os jovens, por estarem em fase de adaptação e de busca pela aceitação e reconhecimento. Não tendo como se ajustar, optam por caminhos perigosos e se perdem.

A escola não é senão um ponto de convergência de todos estes conflitos vividos pelos adolescentes, sementes de uma sociedade doente, que morre aos poucos por desejar ter o que não pode, por trabalhar demais em busca do que pensa precisar para viver, por desejar não ter que trabalhar tanto para nada ter.E o jovem acompanha todas estas tendências.

Cada vez mais a responsabilidade pela solução de todas as mazelas sociais se volta para a escola, como última alternativa de intervir nesse jovem que sofre da doença social. Nos ombros do educador repousam todas as expectativas. Porém, não podemos esquecer que este mesmo educador enfrenta desafios iguais, e está inserido no contexto. Ele também tem medos e dúvidas e, na maior parte dos casos, não é capacitado como deveria. O que resta então,é o compromisso de cada educador com a transformação daqueles a quem ensina. A"marcação homem a homem”, mais conhecida como relação interpessoal entre educando e educador.

A velha concepção pedagógica, que insiste ainda em usar resquícios do “princípio da autoridade” da longínqua escolástica, não cabe mais nesta realidade onde as relações se tornaram tão complexas e os recursos de informação se propagam à velocidade da luz. A escola se levanta como apoio ao fim da violência, do preconceito e da corrupção sim, mas somente quando consegue se tornar mais que paredes, mesas, carteiras, professor. Quando passa a ser casa, abrigo, ninho, dando aos jovens aquilo que estes já não encontram mais lá fora. E isto, claro, custa caro, custa tempo e muralhas pedagógicas milenares ao chão. Há quem não queira, e prefira ver a doença matando enquanto faz cara de paisagem. Não há como educar sem estar envolvido, muito menos fazê-lo e sair sem alguns arranhões. Arranhões doces, para o verdadeiro educador, pois trazem as verdadeiras mudanças. Educar é transformar - e ninguém transforma nada com as mãos limpas. Portanto, para educar e transformar, é imprescindível envolver-se.



Su

Um comentário:

CLEBER VICENTE disse...

UM TEXTO DIGNO DE REFLEXÕES POR MESTRES DA EDUCAÇÃO. UMA TEMÁTICA QUE NECESSITA DE DISCUSSÃO, MAS MUITO MAIS QUE ISSO, NOS ALERTA PARA UMA MUDANÇA DE POSTURA.
PARABÉNS PELO TEXTO. POSSO PEDIR O TÍTULO EMPRESTADO?

PROF. CLEBER