sábado, 16 de agosto de 2008

AQUELA MULHER



As ocasiões em que mais aprendemos, não são, absolutamente, quando ganhamos algo, mas sim, quando perdemos. Poucas oportunidades na vida de um ser humano serão tão cheias de lições a se aprender como quando se perde a mãe.

Assim que perdi a minha, em junho de 2000, comecei a compreender uma série de coisas que nem haviam passado pela minha mente até então. Uma delas é que, logo que uma pessoa perde sua mãe, perde junto com ela, seu referencial de vida. Nada é mais forte do que as impressões deixadas por uma mulher na mente e no coração de seu filho. Ela é a fonte e o início de tudo, sua âncora, muito embora quase nunca se perceba. Assim que esta mulher se vai, você se pega andando assim, meio de lado, cambaleando mesmo, e demora algum tempo até conseguir se equilibrar de novo no mundo. É porque perdeu seu referencial.

Outra coisa que se aprende é que ninguém, não importa o que aconteça, jamais, em tempo algum, o amará da mesma maneira que ela. Isso se refere às coisas práticas da vida, do dia- dia. Poderá encontrar, no decorrer da vida, pessoas que gostarão muito de você. Talvez tenha a sorte de ter avós, tios e tias que lhe amem de verdade. Mas aquele amor, que aquela mulher lhe oferecia, nunca mais. Um amor capaz de motivá-la a deixar qualquer plano, desejo ou projeto de lado pela integridade e bem estar da cria. Pare por um momento e pense: quem já fez isso por você? Existem pessoas boas no mundo, que realmente se importam com o outro, mas sacrificar a si mesmo, só aquela mulher poderia fazer, daquela forma. Portanto,quando alguém bem intencionado lhe disser a frase "eu te amo como se fosse meu filho", dê-lhe um largo sorriso, agradeça... talvez esse alguém acredite mesmo que o ama assim. Mas lembre-se: ele não sabe o que fala. E no ato de não saber, não se encontra nele culpa alguma, pois somente quem já perdeu aquela mulher é que consegue entender a impossibilidade de tal amor em alguém que não seja ela. Ninguém mais pode compreender. É o tipo de conhecimento que não se transmite. Apenas vive-se.

Aprendemos que muitos dos sacrifícios que fez, o fez por puro prazer. Exatamente, ela sentia prazer em fazê-los. O que não os descaracteriza como sacrifícios, de maneira alguma, porque só lhe causavam prazer porque eram por você.

Por mais que estas palavras soem suave aos ouvidos, elas só terão significado real no dia em que "aquela mulher" da sua vida se for. Se ela já não está mais aqui, certamente eu só vim traduzir aquilo que você já sabia e, talvez, não tivesse expressado ainda desta maneira.

No fim, o sentimento que fica mesmo é o de que aquela mulher era uma só. Portanto, se você tem a felicidade de ainda encontrar a sua "aquela mulher "ao seu lado, saiba que igual a ela, jamais haverá. Fique ao seu lado, abra mão do que for necessário para isto. Ela irá embora um dia, e se você pensa não ter nada a oferecê-la, talvez a lição que aquela mulher queira com mais angústia lhe ensinar, possa ser traduzida nas palavras de outra grande mulher:
"Estar também é dar.” (Clarice Lispector - Amizade Sincera)

Su

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