segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"AINDA SOMOS OS MESMOS E VIVEMOS COMO NOSSOS PAIS"




As novas teorias sobre educação demoram muito para chegar efetivamente às salas de aula. Este problema vem a ser um dos responsáveis pelo atraso nos avanços educacionais no Brasil.

Enquanto os pensadores contemporâneos da educação como Emilia Ferreiro e Paulo Freire avançaram muito em suas teorias a respeito de temas como alfabetização e socialização da escrita, nas salas de aula o que prevalece ainda é o ultrapassado sistema tradicional de ensino, onde, na prática, o que se aplica são os velhos métodos de memorização e repetição e a antiga concepção de erro e acerto.

Há uma dificuldade evidente na formação dos professores que, apesar de lerem muito sobre construtivismo e pedagogia libertadora, pouco conseguem perceber como aplicar estes conceitos no dia-a-dia de sua prática.

De uma forma geral, há que se reconhecer os esforços dos órgãos públicos e cursos de formação em capacitar e qualificar os profissionais da área para esta nova (nem tão nova assim) realidade das teorias educacionais. No entanto, o próprio sistema inviabiliza os professores na aplicação concreta destes princípios que, presos a grades e currículos, a cobrança de resultados, acabam por voltar-se naturalmente para os antigos métodos tradicionais e tecnicistas.

Desta forma, vemos o cenário da educação recalcitrar entre o velho e o novo, o discurso e a prática, estampando às nossas vistas uma realidade que já foi conhecida pelo nosso país no século passado, agora não declarada: a pedagogia crítico-reprodutivista. Aquela que critica, que condena, mas continua fazendo.

Responsabilizar os professores individualmente pela resistência ao novo é o mesmo que culpar os pobres pela pobreza. Então matam-se todos os pobres, e acabou-se a pobreza. De igual maneira, o que causa esta dicotomia entre o avanço das teorias e sua aplicação é algo de abrangência muito mais ampla, o próprio sistema de ensino, incluindo-se as leis educacionais.

O sistema de ensino no qual hoje vivemos foi criado, como de praxe, aos moldes do modelo econômico da nossa sociedade. Ele existe, portanto, para viabilizar o capitalismo, ou seja, o sistema liberal de consumo. Desta forma, qualquer avanço no sentido de socializar a educação não é mais que um instrumento de luta dos educadores para transpor tal sistema. Então, por mais que os pensadores da educação tenham suas teorias reconhecidas e apoiadas oficialmente, o próprio sistema sempre será uma barreira para as mesmas, já que a educação, no modelo capitalista, sempre separa os ricos dos pobres, os que dominam o conhecimento dos que são dominados, pois nisto consiste o cerne do capitalismo.

O que conta, na conclusão de tudo, continua sendo o comprometimento pessoal do professor, que faz seu serviço de formiguinha, acreditando estar removendo montanhas. E no final está mesmo, pois está formando a opinião de uma nova geração de pessoas, e influenciando a relação entre elas. O sistema sempre impedirá, mesmo parecendo apoiar, a efetivação completa das teorias educacionais que libertam o povo. A escolha diária de cada professor é que faz a diferença. Todo o resto é demagogia.
SU

Nenhum comentário: